sexta-feira, 3 de maio de 2019


A HUMANIDADE E O PERFUME

Uma das curiosidades polêmicas do mundo da perfumaria está relacionada ao seu surgimento, justamente porque o perfume faz parte da história da humanidade e da evolução do próprio homem. O olfato desempenho, desde os primórdios, funções relacionadas não só à sobrevivência dos seres humanos, mas também ao prazer, uma vez que os bons cheiros despertam uma agradável sensação. Isso levou o perfume a ser utilizado, desde sempre, como um meio de louvor aos deuses e à própria natureza.
Segundo a especialista Sônia Corazza, desde que o homem primitivo ganhou sua forma, há cerca de 50 mil anos, ele começou a fazer uso das plantas que tinha à sua disposição jogando-as ao fogo para fazer oferendas perfumadas aos deuses. Por essa razão, a palavra perfume é originária do Latim PER FUMUM, que significa através da fumaça.
No Egito, a cultura do perfume produzido através da fumaça era uma forma de louvor nos templos.
Uma breve ideia da sofisticação alcançada na perfumaria egípcia é relatada nos estudos dessa civilização em que consta uma receita de perfume de 3 mil anos que continha mais de 10 ingredientes em sua elaboração. Entre eles destacam-se a canela, a mirra e a menta.
Foi no Egito também que nasceu a associação do perfume à sedução, com a rainha Cleópatra, que conquistou que conquistou o imperador romano Julio César e seu general Marco Antonio. Cleópatra tornou-se lendária por seus artifícios de sedução, incluindo o perfume fabricado para seu uso pessoal, o Cyprinum, composto por óleos essenciais extraídos das flores de hena, açafrão, menta e zimbro.
Assim como o prazer através dos cheiros é universal desde a antiguidade, na Índia, região que conquistou o mercado antigo com o comércio de suas especiarias, o perfume também estava estreitamente relacionado aos rituais religiosos e era utilizado para manter afastados os maus espíritos associados às enfermidades.
Outra característica histórica do perfume é sua elitização, que o coloca como objeto de desejo e admiração. Desde tempos remotos, fora do ambiente religioso, o uso habitual dos perfumes estava restrito às castas superiores. Entre as fragrâncias preferidas dos indianos das mais altas camadas sociais figuravam as essências mais encorpadas, como o sândalo, um óleo essencial com cheiro bastante intenso de madeira, e o jasmim, flor branca cujo óleo essencial é mais denso que o das flores mais leves como a lavanda.
Mas é impossível falar sobre o perfume pelo mundo antigo sem fazer uma breve visita à Grécia, berço da filosofia e da ciência, onde a perfumaria recebeu um tratamento sistemático na prática e também na teoria. Também na sociedade ocidental, entre os cristãos, o perfume está presente em toda a sua história.  Centenas de vezes, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, há citações que fazem referência a óleos, incensos, mirra e especiarias. Nas escrituras cristãs, o perfume figura ainda na narração do nascimento de seu Messias, na chegada dos reis magos.
Após o fim do Império Romano, segundo relata Sônia Corazza, na Europa Feudal, a busca pela pedra filosofal, um preparado químico que poderia transformar qualquer metal em ouro, levou a experimentações diversas que resultaram na descoberta das propriedades de muitas plantas, suas características e seus odores variados.
Porém, os primeiros relatos históricos ocidentais da perfumaria datam apenas do século XIII, quando artesãos, maravilhados com a arte de manipular os cheiros da natureza, foram desenvolvendo suas técnicas. Até que, no início desse mesmo século, o rei da França, Felipe II, o Augusto, reconheceu a profissão de perfumista e oficializou locais para produção e venda de criações olfativas.
Na época do renascimento, a descoberta das Américas levou para a perfumaria novas matérias-primas, como o bálsamo do Peru e o cacau. Como o impulso proporcionado pelo Renascimento foi mais intenso na Itália, não é de surpreender que Florença se tornasse uma das mais vibrantes cidades do seu tempo, transformando-se, nesse período, o centro europeu do perfume.
No Renascimento, em Florença, nasceu uma personagem de grande relevância para a perfumaria do século XV: Catarina de Médici, filha de Lorenzo II e futura esposa de Henrique II, rei da França. Essa história, narrada em Larousse del perfume y las essencias, destaca uma ligação forte entre as duas regiões que disputavam o título histórico de criadores da perfumaria europeia: Itália e França.
Em 1853, ano em que Napoleão III casou-se com a aristocrata espanhola Eugênia de Montijo, Guerlain lança o eau de cologne Imperiale, perfume criado em homenagem à imperatriz Eugênia, e vendido até hoje na mesma embalagem desde o seu lançamento. Assim que foi lançado, tornou-se a primeira fragrância de sucesso no mercado francês, fato identificado como um marco do nascimento do perfume moderno.

(Texto resumido do livro, Estação Perfume, de Luciene Ricciotti.)

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