A HUMANIDADE E O PERFUME
Uma das
curiosidades polêmicas do mundo da perfumaria está relacionada ao seu
surgimento, justamente porque o perfume faz parte da história da humanidade e
da evolução do próprio homem. O olfato desempenho, desde os primórdios, funções
relacionadas não só à sobrevivência dos seres humanos, mas também ao prazer,
uma vez que os bons cheiros despertam uma agradável sensação. Isso levou o
perfume a ser utilizado, desde sempre, como um meio de louvor aos deuses e à
própria natureza.
Segundo a
especialista Sônia Corazza, desde que o homem primitivo ganhou sua forma, há
cerca de 50 mil anos, ele começou a fazer uso das plantas que tinha à sua
disposição jogando-as ao fogo para fazer oferendas perfumadas aos deuses. Por
essa razão, a palavra perfume é originária do Latim PER FUMUM, que significa
através da fumaça.
No Egito, a
cultura do perfume produzido através da fumaça era uma forma de louvor nos
templos.
Uma breve ideia da sofisticação alcançada na perfumaria
egípcia é relatada nos estudos dessa civilização em que consta uma receita de
perfume de 3 mil anos que continha mais de 10 ingredientes em sua elaboração.
Entre eles destacam-se a canela, a mirra e a menta.
Foi no Egito
também que nasceu a associação do perfume à sedução, com a rainha Cleópatra,
que conquistou que conquistou o imperador romano Julio César e seu general Marco
Antonio. Cleópatra tornou-se lendária por seus artifícios de sedução, incluindo
o perfume fabricado para seu uso pessoal, o Cyprinum, composto por óleos
essenciais extraídos das flores de hena, açafrão, menta e zimbro.
Assim como o
prazer através dos cheiros é universal desde a antiguidade, na Índia, região
que conquistou o mercado antigo com o comércio de suas especiarias, o perfume
também estava estreitamente relacionado aos rituais religiosos e era utilizado
para manter afastados os maus espíritos associados às enfermidades.
Outra
característica histórica do perfume é sua elitização, que o coloca como objeto
de desejo e admiração. Desde tempos remotos, fora do ambiente religioso, o uso
habitual dos perfumes estava restrito às castas superiores. Entre as
fragrâncias preferidas dos indianos das mais altas camadas sociais figuravam as
essências mais encorpadas, como o sândalo, um óleo essencial com cheiro
bastante intenso de madeira, e o jasmim, flor branca cujo óleo essencial é mais
denso que o das flores mais leves como a lavanda.
Mas é
impossível falar sobre o perfume pelo mundo antigo sem fazer uma breve visita à
Grécia, berço da filosofia e da ciência, onde a perfumaria recebeu um
tratamento sistemático na prática e também na teoria. Também na sociedade
ocidental, entre os cristãos, o perfume está presente em toda a sua história. Centenas de vezes, tanto no Antigo quanto no
Novo Testamento, há citações que fazem referência a óleos, incensos, mirra e
especiarias. Nas escrituras cristãs, o perfume figura ainda na narração do
nascimento de seu Messias, na chegada dos reis magos.
Após o fim
do Império Romano, segundo relata Sônia Corazza, na Europa Feudal, a busca pela
pedra filosofal, um preparado químico que poderia transformar qualquer metal em
ouro, levou a experimentações diversas que resultaram na descoberta das
propriedades de muitas plantas, suas características e seus odores variados.
Porém, os
primeiros relatos históricos ocidentais da perfumaria datam apenas do século
XIII, quando artesãos, maravilhados com a arte de manipular os cheiros da
natureza, foram desenvolvendo suas técnicas. Até que, no início desse mesmo
século, o rei da França, Felipe II, o Augusto, reconheceu a profissão de
perfumista e oficializou locais para produção e venda de criações olfativas.
Na época do
renascimento, a descoberta das Américas levou para a perfumaria novas matérias-primas,
como o bálsamo do Peru e o cacau. Como o impulso proporcionado pelo
Renascimento foi mais intenso na Itália, não é de surpreender que Florença se
tornasse uma das mais vibrantes cidades do seu tempo, transformando-se, nesse
período, o centro europeu do perfume.
No
Renascimento, em Florença, nasceu uma personagem de grande relevância para a
perfumaria do século XV: Catarina de Médici, filha de Lorenzo II e futura
esposa de Henrique II, rei da França. Essa história, narrada em Larousse del
perfume y las essencias, destaca uma ligação forte entre as duas regiões que
disputavam o título histórico de criadores da perfumaria europeia: Itália e
França.
Em 1853, ano em que Napoleão III casou-se com a aristocrata espanhola
Eugênia de Montijo, Guerlain lança o eau de cologne Imperiale, perfume criado
em homenagem à imperatriz Eugênia, e vendido até hoje na mesma embalagem desde
o seu lançamento. Assim que foi lançado, tornou-se a primeira fragrância de
sucesso no mercado francês, fato identificado como um marco do nascimento do
perfume moderno.
(Texto resumido do livro, Estação Perfume, de Luciene
Ricciotti.)
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