OS CHEIROS E AS EMOÇÕES
Outro conhecimento sobre o olfato, que tem influência decisiva no consumo de perfumes, diz respeito à memória olfativa. A preferencia por determinado cheiro está relacionada às sensações vividas quando esse cheiro é inalado.
Conforme a especialista Sonia Corazza, "uma das estruturas mais antiga do organismo, a parte do cérebro que se destinava primitivamente ao olfato, evoluiu e, hoje, controla as emoções e outros aspectos do comportamento".
Tal fato é destacado também por Rachel Herz, da Universidade Brown, autora do livro The Scent of Desire (O aroma do desejo). Em matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo, Herz afirma que, "é importante lembrar que o córtex olfativo está relacionado ao sistema límbico do cérebro e com a amígdala, onde as emoções nascem e as memorias olfativas são registradas. É por isso que cheiros, sentimentos e memórias ficam tão próximos".
Um exemplo interessante da influência das emoções na percepção dos cheiros foi narrada do Céline Morineau, filha do perfumista francês Jean Luc Morineau, em uma conversa informal no Instituto do Perfume. Céline contou sobre o resultado de um exercício feito por seu pai em sala de aula, durante seu curso na ABC Cosmetologia. Morineau solicitou à sua turma que cada aluno colocasse em uma tabela, na primeira coluna, uma lista de cheiros "bons", na segunda, uma lista de cheiros "ruins". Ao olhar uma das tabelas entregues, Morineau chamou o aluno e comentou que ele deveria ter se confundido, pois na coluna em que era para colocar cheiros bons estava, em primeiro lugar, cheiro de peixe podre.
Então o rapaz explicou que seu pai, que era pescador, passava meses longe da família em alto mar e, quando retornava, vinha com um forte cheiro de peixe apodrecido, e a alegria era restabelecida em sua casa. Ele adorava esse cheiro.
Sua memória associava um cheiro, que é ruim para a maioria das pessoas, a uma sensação de alegria e bem-estar, resgatando essas emoções positivas toda vez que esse rapaz sentia cheiro de peixe podre, tornando esse odor desagradável em algo positivo e prazeroso.
Esse exemplo mostra o que a ciência estuda e busca entender: como a percepção e o prazer em sentir alguns cheiros estão diretamente ligados às sensações e emoções que são vividas no momento marcado por determinadas fragrâncias.
Entender como os cheiros são gravados emocionalmente na memória auxilia a compreensão sobre os gostos de cada um e reforça o fato de que conhecer e respeitar a preferencia olfativa das pessoas é, de certa forma, conhecer e respeitar a sua história e suas emoções.
Tal característica emocional do olfato é o que torna a perfumaria um universo mágico de emoções e que associa esse sentido, inclusive, à imaginação. Por essa razão, o suíço Jean-Jacques Rousseau, um dos maiores escritores e filósofos do século XVIII, afirmou: "O olfato é o sentido da imaginação".
Extraído do livro, Estação Perfume, de Luciene Ricciotti.
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